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sábado, 18 de junho de 2016

Michel Temer vive uma semana típica de Dilma

Josias de Souza
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Foi como nos tempos de Dilma Rousseff. O governo havia projetado para Michel Temer uma semana de holofotes. Deu tudo errado. Tão errado que Temer teve de cancelar o pronunciamento que faria na noite desta sexta-feira. Seria sua primeira aparição em rede nacional de rádio e tevê. O Planalto farejou o risco de panelaço. E Temer experimentou pela primeira vez o pavor que fez Dilma banir da sua rotina o hábito de invadir os lares antes do Jornal Nacional.
Os brasileiros mais otimistas imaginavam que a Lava Jato tivesse deixado o Palácio do Planalto no dia em que Dilma, ciente do seu afastamento, assinou dois documentos: a revogação do título de chefe da Casa Civil que concedera a Lula como um escudo anti-Moro e a exoneração do seu ex-tesoureiro de campanha Edinho Silva do posto de ministro da Comunicação Social da Presidência e do foro privilegiado que mantinha no STF o inquérito em que é acusado de transformar petropropinas em doações eleitorais.
Confirmando as expectativas mais pessimistas, a lama voltou a subir a rampa do Planalto. Recobriu os sapatos de Michel Temer. E abafou o grande anúncio da semana: o envio ao Congresso da proposta de emenda constitucional que cria um teto para limitar o crescimento das despesas públicas. O som da fanfarra da agenda econômica positiva foi suplantado pelo estrondo da delação premiada de Sérgio Machado, o ex-tucano que se converteu ao PMDB e presidiu a Transpetro por quase 12 anos. Período em que fez da subsidiária da Petrobras uma usina de trambiques e propinas.
Machado ocupou manchetes nas quais o Planalto imaginou que acomodaria Henrique Meirelles. O ministro da Fazenda seria usado como uma espécie de sonho de relações públicas, para cultivar a imagem de respeitabilidade nos dias de festa programados para a semana. Mas o PMDB acabou roubando (ops!) a cena. Tomado pelas palavras do seu delator, o partido não se contenta com tudo. Quer sempre mai$. Machado disse ter recolhido R$ 115 milhões no balcão que instalou na Transpetro. Distribuiu-os a 23 políticos de oito partidos. A parte do leão, R$ 100 milhões, foi destinada aos cardeais do PMDB.
Acusado de encomendar uma machadiana de R$ 1,5 milhão em 2012, para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, Temer piscou. Soltou uma nota frouxa. Só no dia seguinte, com a imagem já desidratada, convocou os jornalistas. Imaginou-se que enfrentaria o contraditório de uma entrevista. Entretanto, a exemplo do que Dilma cansou de fazer, ele preferiu ler um “comunicado”. Sem direito a perguntas. Tachou as declarações de Machado de “irresponsáveis, mentirosas, levianas e criminosas.” O delator não se deu por achado. Reafirmou tudo o que dissera, por meio de nota.
Depois de esfarelar o PT e seus satélites, a Lava Jato expõe o apodrecimento do PMDB na pior hora para Temer. O partido entra em fase de putrefação justamente no instante em que seu governo deveria florescer. O substituto constitucional de Dilma programara-se para bater bumbo em torno do que considera ser os principais feitos do seu governo até aqui: a normalização das relações com o Congresso e a retomada da confiança dos agentes econômicos.
Mas a delação de Machado fez tudo parecer supérfluo. Sobretudo depois que ficou boiando no ar a impressão de que Temer não tem condições pessoais e políticas de se dissociar do pedaço podre da legenda que preside há 15 anos. Logo, logo não será possível notar mais nada de tanto que vai existir o PMDB de Renan, Cunha, Jucá e Sarney. Vêm aí a conta suíça de Henrique Alves, o penúltimo ministro de Temer a cair; e a delação de Fábio Cleto, um operador de propinas que Eduardo Cunha acomodara numa vice-presidência da Caixa Econômica Federal. Para que a semelhança com Dilma se aproxime da perfeição, só falta Temer pronunciar uma frase: “Eu não sabia”.

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